FILOSOFANDO NA PRAÇA - I
Está terminando o ano letivo e, para nós que ministramos cursos, vamos aproveitar o mês de dezembro tão festivo, para quebrar a rotina e viajar ao encontro dos familiares. Vem o mês de janeiro, às vezes tedioso, com uma vibração mais sombria, então pensamos em oferecer àqueles que desejarem um encontro na praça, para filosofar e trocar idéias sobre assuntos diversos. Reunimos um grupo que aprovou a proposta e convidamos algumas pessoas, tais como: um amante da literatura, um artesão, um seminarista que veio acompanhado de uma jovem, e uma idosa que, para se ocupar, aprendeu modestamente, a fazer trabalhos de artes plásticas. O encontro foi marcado num banco da Praça Dr.Emílio da Silveira, e deixamos abertura para quem tomasse conhecimento e desejasse participar dos encontros. Esta foi uma proposta aceita pelos convidados e iniciamos os encontros semanais.
Para o primeiro encontro escolhemos um legado de Platão, que diz mais ou menos assim: “O remédio da alma é encontrar certos encantamentos que fazem nascer a sabedoria. Quando a alma possui a sabedoria e a conserva, é mais fácil ser feliz e saudável”. O seminarista acrescentou dizendo que: “a alma pede alimento, e nada mais alimentador do que o sentimento tão espontâneo, puro e genuíno que transborda além dos corações dos homens”.
A jovem apresentou-se dizendo ser estudante – autodidata - de misticismo, e que gostaria de fazer algumas reflexões sobre o novo homem. As atenções se voltaram para ela que parecia tão estranha e despertou curiosidade aos outros pelo tema a ser abordado. Ela explicou que “o homem velho é como a ciência, grandiosa, filha da luz, lampejo vivo do sol eterno. Mas este homem não quer conhecer outro caminho para além do coração do homem... e, para trabalhar pela elevação espiritual é preciso que a nossa ressonância intelectual esteja em harmonia com a ressonância emocional que se chama - via do coração. Só assim a divindade se instala em nós, e o homem é renovado, torna-se um homem novo”.
O literato, muito atento ao assunto, perguntou: “o novo homem, ao tornar-se mais iluminado, entra em harmonia com a grande luz? e ao seguir o caminho pela via do coração é possível alcançar a divindade”?
Para descontrair o nível tão transcendental da conversa, o artesão pediu para falar sobre o seu trabalho. Ele trouxe nas veias o talento de seus antepassados, e cultivou o trabalho oriundo do barro. Preparava as suas peças artesanais e vivia como viveram os seus pais, avós, e várias pessoas de sua família, do comércio de suas peças. O trabalho artesanal era feito com o maior prazer e, quem trabalha com prazer e alegria, na certa está se divertindo. É um trabalho que enche a alma de alegria e recompensa. Mas o preço por esta satisfação está trazendo grandes problemas. A troca das peças artesanais pelas industrializadas predomina no mundo moderno. Hoje um artesão para sobreviver, sofre grande desgaste. A preocupação é terrível, não entra dinheiro.
Todos queriam falar sobre as suas histórias, mas entrou em cena a senhora que tem como passa-tempo desenhos e pinturas. Eufórica, ela comentou que nesta altura da vida, participou de muitas exposições e concursos. E para surpresa, foi classificada no Concurso Banco Real Talentos da Maturidade. Esta foi uma das maiores emoções e surpresa. Jamais pensou numa vitória de tamanha importância. Disse ela: “Imaginem vocês que me preparei para ir receber o troféu. Estou caminhando para os meus 80 anos de idade, viajei para outro Estado e com muita emoção fui receber a grande homenagem. Tudo correu de forma espetacular. Vivi um grande momento, uma sensação de auto-estima como nunca havia imaginado. Dai em diante fiz uma recapitulação dos meus longos anos vividos e um encontro entre glórias e dissabores, Cheguei à certeza de que caminhei de forma assertiva. Aprendi, lutei e conquistei. Não há idade para vencer e nem para começar novos aprendizados”. Esta idosa senhora deixou a mensagem: “Nunca é tarde para fazer, trabalhar, aprender e concorrer”.
Encerramos as conversas e nos despedimos. .Até o próximo encontro.
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