A BELEZA NAS SUAS VÁRIAS CONCEPÇÕES
Ilma Manso Vieira
Reza a sabedoria comum que o gosto, assim como a religião ou política, não se discute. Para os estudiosos que procuram analisar cada pequeno pensamento, discordam do dito popular e vão questionar o que é feio e o que é belo, tendo em vista a avaliação pessoal, sem critérios confiáveis.
Pitágoras fez as primeiras reflexões sobre a beleza. O que é verdadeiro é bom e belo, o falso é feio e mau. Tudo que era belo era calculado por uma harmonia de linhas simétricas, portanto, verdadeiro e consequentemente, seria belo, correto e bom. A doutrina pitagórica era fundamentada nestes três princípios: belo, verdadeiro e bom.
Para Platão, a beleza deste mundo lembra o valor absoluto que é compreendido pelo ser humano.
Na Idade Média, a beleza estava ligada à perfeição divina, e ligada à realidade captada pela visão e audição humana. As formas artísticas vagas e confusas não se enquadravam na concepção do belo.
A partir do séc. 17, a atividade artística caminhou para além do Bem e do Mal, ligando-se mais à imaginação que ao intelecto.
Só no séc.18, os filósofos, críticos e ensaístas passaram a levar em consideração o elemento subjetivo na percepção do gosto. A liberdade para avaliar o belo ganhou espaço para a emoção na apreciação da arte, deixando a racionalidade que levava em conta a clareza, a nitidez e a forma.
O filósofo alemão Immanuel Kant, na sua obra A Crítica do Juízo defendeu o conceito de que o homem apreende a beleza conforme a sensibilidade de cada indivíduo. “É na beleza do céu estrelado sobre si que o belo produz sentimento de alegria. Encontra Deus no belo plano da natureza. A beleza do mundo nos aponta para uma Providência benigna”. E é assim no juízo que se tem o gosto e o sentimento de prazer e desprazer que uma obra proporciona, e não a razão, isto no entendimento abstrato como a imaginação e a sensação.
A Professora de Filosofia da USP, Olegária Matos, diz que a “Arte deixou de ser uma reprodução do mundo objetivo e o belo deixou de ser a obra que melhor copiava ou aperfeiçoava o objeto representado”. Nesta nova interpretação, a estética abriu espaço até mesmo para as artes plásticas.
Para o filósofo Hegel (1770-1831) jamais o artista poderia reproduzir a beleza natural, por ser esta muito superior à obra copiada. A tinta colorida, o pincel e o barro usados na arte expressam a idéia que se tem da realidade, e negou as mesmas qualidades para o belo natural e para o belo artístico. O feio era a forma de representar a dor e a frieza das coisas e que foi introduzida pelo cristianismo na civilização ocidental, e o ser humano passou a viver em dois mundos: o do pecado (feio) e aquele que o levará aos céus (belo). Observa-se que as fisionomias animalescas dos torturadores de Cristo na antiga pintura alemã simbolizavam a onipresença do Mal no ser humano. E os rostos delicados representavam Nossa Senhora, e a expressão de paciência e bondade dos santos que esperam a redenção para uma eternidade que nos aguarda. Assim uma obra guarda, também, vestígios negativos.
O gosto tornou-se padronizado com o advento da indústria cultural. E as artes fabricadas em série obedecendo a um modelo do design tornaram-se cada vez mais criativas. O prazer estético foi trocado pelas idéias de posse e o conhecimento artístico deu lugar ao prestígio, o que nos leva a entender que o respeito à arte desaparece na indústria cultural. Os consumidores passam a comprar baseados nas estrelas da TV, imitam o modo de vestir, corte dos cabelos, modo de maquiagem e assim despersonalizam as pessoas. Há quem considera que as caricaturas são reproduções vazias criadas com objetivo comercial. A moda das roupas, maquiagens, tatuagens, piercings, atividades físicas, dietas e cirurgias plásticas dão exaltação de um ideal estético.
“A beleza artística é fundamentada no sublime da verdade, e a beleza natural, fundamentada no sublime da criação, logo estão entrelaçadas”.
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