sábado, 2 de abril de 2011

FILOSOFANDO NA PRAÇA - II

FILOSOFANDO NA PRAÇA  - II

 

         Após 15 dias, voltamos a filosofar na praça.

         Observamos melhor o novo visual da praça que foi reabilitada,

e parece que estamos voltando à nossa Praça de outrora, do tempo colegial.

         Outras pessoas apareceram. O primeiro a chegar foi um literato-escritor, que diariamente passeia pelas praças, acompanhado de seu amigo fiel, um belo cão, da raça cocker spaniel, que atende pelo nome Dick (deusa da justiça). Em seguida, o professor de Educação Física juntou-se a nós, trazendo a sua jovialidade e entusiasmo pela vida. Chegou também a amiga dos tempos do colégio, atualmente apelidada a “Menina da Efoati”, que depois de tantos anos ausente, voltou com as suas observações, vê o mundo na sua ótica fantasiosa e indignada. E para surpresa maior, tivemos a participação de um jovem político sonhador que passou a vida acreditando na realidade de suas fantasias, na certeza de que ‘possibilidade’ já é fato consumado. O professor de Filosofia, na liderança do encontro, propõe uma viagem pelo conhecimento após o séc. IX, passando pela Idade Média, Escolástica, Renascimento e preparação para o mundo Moderno, que despontou no final do séc. XV. Sem história do passado, torna-se difícil compreender o tempo presente.

      Alguns dos que compareceram no primeiro encontro, só voltarão dentro de um mês. Depois, uniremos os dois grupos. 

       O político tomou a palavra fazendo proposta para levantar uma ‘tempestade de idéias’. Deixar que cada um descarregue os seus temas, as suas emoções. Assim todos concordaram. A proposta do Professor de Filosofia ficou adiada.

      Chegou a jovem Arquiteta, sempre preocupada com a ‘Programação Visual’ da cidade. Afinal, conforto visual também é necessário e faz muito bem. A Menina da Efoati, aquela que só se ocupa de exercícios físicos: academia, ginástica, yoga, caminhada, e não tem tempo para pensar. O corpo agradece, mas a cabeça reclama. Disse ela: “Uma vez por semana nos encontramos com o professor de Educação Física numa sala de aula. As freqüentadoras da terceira idade, conscientes dos longos anos já caminhados pela vida com a metamorfose do corpo, gordas ou magras, com a pele que não tem mais o vigor e o brilho da juventude já tão distante..., a pele dos braços rugosa, as mãos manchadas com pintas como se fosse ferrugem pelo envelhecimento. As pernas, antes esbeltas e douradas pelo sol, agora mais curtas, volumosas, esbranquiçadas e com veias exaltadas e escurecidas. Estas ‘meninas’ chegam à sala e são tomadas de uma energia contagiante. Comunicativas, alegres aguardam a entrada do professor. O professor entra. Os olhos de cada uma antes distantes pela queda das pálpebras, atacadas pelo blefaroespasmo, e fisionomias envelhecidas, mudam de aparência. O belo professor, um verdadeiro deus grego – um Apolo - o deus da beleza. Os olhares se fixam na bela estátua viva, as faces ganham expressões de felicidade e os olhos crescem como se tivessem sobre efeito de Botox, e brilham como faróis para iluminar o ‘deus da beleza’. As ‘meninas’ ficam paralisadas diante do Belo que Veio! Um colírio para os nossos olhos...”.

     “Muito bem”, disse o escritor: “Eu acho tão difícil aderir-me ao exercício físico, prefiro as caminhadas matinais, no silêncio. Observar o que se passa ao seu redor. Como se comportam as pessoas que transitam nas ruas. Como está sendo cuidada a nossa cidade... Acredito que o crescimento da cultura de um povo se mostra pelo zelo, pela limpeza da cidade, pois temos a praça como “cartão de visita”. É respirando o ar puro que recebo inspiração para compor as minhas obras. Pergunta o professor de Educação Física: “Você como escritor, deve ser um apaixonado. Aquele que vê a mulher amada como uma deusa a ser coberta de carinho, de afago, presenteada com rosas quando as palavras são pequenas para expressar a sua paixão. Tenho medo da paixão, porque ela nos tira a razão”. O escritor comenta: “É meu amigo, a paixão é que me faz colher as alegrias da vida. Vivo movido pelas emoções frenéticas da paixão... é um delírio, uma viagem...”.

      O professor de Filosofia encontrou um ‘gancho’ para falar sobre a flor – a rosa: “A rosa pode ser vista como símbolo de equilíbrio entre o dar e o receber”. A rosa possui um núcleo de onde emanam as pétalas. Do ponto central sai uma irradiação e a energia que vem de fora passa pelas diversas pétalas que são reunidas no centro da rosa. Elas representam o nosso receber, trata-se de um movimento de fora para dentro, um processo de interiorização. Em seguida, a energia que parte do interior, do centro da rosa, difunde-se através das pétalas, irradiando-se para fora. Elas representam o nosso dar através do movimento de dentro para fora, um processo de exteriorização. A rosa representa simultaneamente a concentração no mundo interior e a abertura ao mundo exterior. Precisamos das duas coisas para viver harmoniosamente: do receber e do dar”.

      A arquiteta volta a falar da praça. “Estamos de volta à praça e sou uma das responsáveis pela sua recuperação artística de todas as praças de Alfenas. Os projetos estão lindos e acreditamos na recuperação e embelezamento de todas elas. Alfenas e o seu povo merecem a alegria de viver numa cidade que respeita a natureza e possa sentir orgulho de seus governantes. Alfenas caminha  para o segundo século de existência, tem muito a melhorar e é inaceitável que a cidade e seu povo sejam desrespeitados e humilhados pelo abandono. Vamos cobrir as praças de rosas.

           O político sonhador ansioso para desabafar: “Se eu fosse o governo desta cidade contrataria os desempregados para consertar e lavar as calçadas e ruas e escová-las até ressurgir o brilho que Alfenas merece. E exigiria um tratamento com ‘pedrinhas de brilhantes’, irradiando luminosidade por todos os cantos. Cada transeunte teria que jogar o seu ‘lixinho’ nas cestas próprias. Em cada esquina, um vigia para educar e multar cada infrator. Educação é lei...limpeza é lei...Seria proibido sujar a cidade. Campanhas de civilização pelas ruas. Cachorrinhos protegidos para não sujar as calçadas. Cachorros e donos recolhidos. Pedintes teriam o seu espaço. A alegria de viver em Alfenas seria uma realidade. Tanta coisa para realizar”.  

     O escritor pediu a palavra: “È amigo! Enquanto você no mundo da fantasia limpa a cidade, organiza, administra, etc... eu gostaria também, que fosse instalada uma mega-livraria modelo. O povo não tem dinheiro para comprar livros, mas teria um belo espaço com poltronas, café, temperatura e música ambiente  para passar horas folheando ou lendo livros e revistas. O  povo de Alfenas merece. Colocaria funcionários preparados para indicar leituras àqueles que não estão habituados a ler. O ambiente seria um grande ponto de atração. Como é bom viver no mundo dos sonhos, mas muita frustração em não poder realizá-los  Os sonhos são alimentos mentais”.  O professor de Educação Física  que tem os pés no chão pediu um tempo para falar: “Sonhar é uma realidade e é dentro dos sonhos  que cumprimos os nossos ideais. Eu ensino e exijo que as ‘meninas’ da terceira idade, não se descuidem do físico e da alimentação para manter o equilíbrio do corpo e da mente. A força da terceira idade é incrível. Procuro conscientizá-las de que elas podem fazer o que querem. É preciso  saber usar a sua força”.  A ‘menina da Efoati’ interrompeu, e com ênfase e entusiasmos acrescentou: “Você professor, é o nosso mentor”.  O professor de Filosofia ainda não teve espaço para dialogar sobre Filosofia. Mas, o importante, é que todos se sentiram à vontade para falar.

     O tempo foi encerrado.  Até o próximo encontro.

                                                       X

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