domingo, 17 de abril de 2011

ANTONIO JOAQUIM VIEIRA

REVIVENDO  ANTONIO JOAQUIM VIEIRA

Ilma  Manso Vieira Mansur

 

    ANTONIO JOAQUIM VIEIRA nasceu na Fazenda do Campo Redondo, há 30km. de Alfenas, no dia 07 de dezembro de 1830 e faleceu em 12 de agosto de 1908. Filho do Alferes Domingos Vieira e Silva, de origem lusitana, que veio para o Brasil colonizar vasta região no Sul de Minas Gerais. Domingos muito colaborou na construção da cidade de Alfenas. Foi militante do partido Conservador, e liberou grande energia na construção de pontes, estradas e marcou sua passagem na vida como exemplo de civismo e cidadão. Trazia em suas veias a fidalguia e educação esmerada. Inteligência brilhante. O seu primeiro ato foi da alforria aos seus escravos e protegidos  por ele. 

           O filho de Domingos, Antonio Joaquim (meu bisavô), revelou-se na política como pacifista e harmonizava as divergências locais. Colocava o bem comum acima das cogitações pessoais  (hoje, uma utopia). 

         Casou-se com a nobre Rita de Cássia Monteiro de Barros MANSO da Costa Reis, descendente do Barão de Paraopeba, da cidade vizinha São Gonçalo do Sapucaí. O casal foi  agraciado com treze filhos que nasceram na Fazenda Campo Redondo (O Solar dos Vieira) e receberam como sobrenome, MANSO VIEIRA. Muitos netos e bisnetos também nasceram na mesma fazenda e carregam o mesmo sobrenome. Costume da época para não se perder da tradição nobre de uma fidalga que se conservava por séculos. O que era respeitado. Quando Antonio Joaquim foi dividir suas propriedades com os 0filhos através de sorteio, a Fazenda Mãe Campo Redondo, a mais cobiçada por todos, coube ao oitavo filho, Domingos Manso Vieira (meu avô). Lá ele se casou com Maria José Siqueira  e criou seus doze filhos. Seu primogênito, Braziel Manso Vieira casou-se com  Francisca Pereira e o casal teve cinco filhos: (Ildeu, Ida, Iná, Ilma e Isnard) que também nasceram e viveram na  Fazenda Campo Redondo até  a idade escolar. A história dos Vieira é longa e atravessou séculos.

      Antônio Joaquim possuía alma mística e voltado para a fé, liderou na construção da Matriz São José e Dores, que apesar de ter sido descaracterizada, principalmente na parte interna, resiste até hoje, altaneira e simbólica na Praça Getúlio Vargas de Alfenas. Ele foi Delegado da cidade de Divisa Nova e recusou receber o salário que tinha por direito, caso inédito.  Liderou partidos políticos em Alfenas. Foi Membro atuante da Câmara, nunca faltou uma sessão sequer, deixando a marca de suas realizações e inspirações. Em baixo de chuva ou sol,  lá ia Antônio Joaquim enfrentando lamas, galopando em seu cavalo, para atender os chamados para as sessões políticas. Numa certa ocasião, durante três dias ele fez viagem pelas estradas agrestes para cumprir o chamado para as reuniões da Câmara, e elas não realizaram.   Por  que? Os Membros  convocados  não compareciam. Só Antônio Joaquim cumpria o seu dever. Recebeu de D. Pedro II, assim como o seu pai, a patente de Alferes e sentia-se muito bem com a farda suntuosa, chapéu com penacho e escudo, e uma espada gravada a ouro. O chapéu do Alferes e a espingarda de caça, em perfeitos estados de conservação se encontram com a sua neta Magdalena Manso Vieira, filha de Domingos, que hoje residente numa fazenda que pertenceu ao Barão de Vassouras-RJ, totalmente restaurada. Lidíssima. A espada pertence ao Museu de São Paulo.

       As grandes caçadas de Antônio Joaquim  eram realizadas na Fazenda Palmital, localizada em São Gonçalo do Sapucaí - MG.  Era de propriedade do Barão de Paraopeba, com mina de ouro, herança deixada aos seus descendentes. Nesta fazenda foram hospedados D. Pedro II e a Princesa Izabel.

      Antônio Joaquim recusou a nomeação de Coronel, pois dominado pela simplicidade, estava satisfeito com o título de Alferes, com seus adereços que cultuava com grande carinho. Fundou em 1850, junto com sua irmã Eufrásia, a primeira escola rural do município, construída de madeira de lei, que durou 50 anos. Essa escola educou seus filhos, sobrinhos, ex-escravos, vizinhos e outros. Não havia interesse financeiro. A escola era gratuita. Contratou professores do Rio de Janeiro, que se hospedavam no Solar dos Vieira.  Foi Antônio Joaquim autêntico educador. Os professores ensinavam deste a alfabetização, até matérias como Filosofia, Ciências e História. Da escola rural saíram respeitáveis mestres, considerados  a ‘meca do saber’.

      A Fazenda Campo Redondo (Solar dos Vieira) foi construída em 1808 e até os nossos dias continua nas mãos dos Vieira. Lá foi construído por Domingos Vieira e Silva um imenso engenho de cana, com peças trazidas da Alemanha, tais como: moenda, roda d’água, alambique, etc. Coxos imensos por onde corria a cachaça (pinga) ou bagaceira, nome usado em Portugal. No engenho produzia grande quantidade de derivados da cana, açúcar, rapadura, melado, cachaça (uma das melhores conhecidas). A fazenda era rica na plantação de cana. Antes do engenho, a fazenda  explorava o café. Possuia também, com grande atividade, a serraria e o movimento era  imenso e beneficiava toda a região.

    Antônio Joaquim foi um líder do progresso de Alfenas e da educação. Construiu pontes, estradas e idealizador da Matriz São José e Dores da Pedra Branca. O material para construção, como areia, pedras, madeiras e outros para erguer a Matriz vinham de doadores. Antonio Joaquim sempre à frentes da obra. Seus carros-de-bois traziam o material da sua fazenda, e as mãos-de-obras eram dos escravos e voluntários. Num certo momento, Antônio Joaquim foi atingido pela crise na lavoura e a obra foi interrompida. Mas, logo voltaram as atividades e até hoje, temos na principal praça da cidade, a majestosa Matriz como marca da cidade. Seu espírito altruísta fazia crescer o município. Seu senso de justiça imperava em seus atos.

      O Jornal Alfenense publicou em 1928, um fato inusitado de Antônio Joaquim. Convocados pelo primeiro Juiz, Dr.Cavalcanti, cidadãos para discutir sobre mudanças na Constituinte, o corpo de jurados composto de dez Membros da Câmara. Antônio atravessava os rios do Muzambo e São Tomé, à cavalo, sobre chuva torrencial e lamas, e chegava à cidade no horário determinado. Não houve sessão, por falta de comparecimento dos outros jurados, que residiam na própria cidade. Assim a sessão foi adiada por mais duas vezes. Antônio Joaquim firme, e pontualidade ‘britânica’. Na terceira convocação, a sessão novamente suspensa, Antônio Joaquim presente na Câmara, levantou-se com fidalguia, e bradou energicamente: “...é um abuso dos que não estão presentes, Dr.Cavalcanti”. Com o dedo indicador  no alto,  continuou:... “nossas  Leis não precisam de reformas. É preciso reformar  os costumes dos homens. Mande buscar os jurados em suas casas. Que venham obrigados”. O Juiz irado com a sua audácia,  pronunciou:  “Considere preso o Alferes Antônio Joaquim Vieira. Em seguida, o Delegado pediu a lista dos jurados faltosos, reabriu a sessão. Antônio Joaquim foi o único a reformar o artigo, com as palavras: “Todo brasileiro é obrigado a ter vergonha na cara”.

      Em Alfenas, Antônio Joaquim Vieira tem ainda quatro netos e muitos bisnetos, continuidade do nome MANSO VIEIRA. Seus descendentes carregam a sua carga genética, como marca de seu caráter.

                                                                         Alfenas, 20002.  

     

4 comentários:

  1. Meu avo Alexandre Gonçalves Vieira,filho de Manoel Gonçalves Vieira foi imigrante de Portugal.Tenho imensa vontade de saber detalhes dos meus antepassados.
    Gostei de ver a historia de vcs.Parabens

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Tive antepassados com o sobrenome Gonçalves Vieira, em Vassouras-RJ. Roldão Gonçalves Vieira

      fv-sobrinho@uol.com.br

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  2. A grandiosidade das informações me tornaram um homem mais sábio após ler essa história, sou morador de Alfenas e tenho 25 anos, me interesso muito por história apesar de nunca ter frequentado uma faculdade, obrigado Ilma.

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