domingo, 17 de abril de 2011

ANTONIO JOAQUIM VIEIRA

REVIVENDO  ANTONIO JOAQUIM VIEIRA

Ilma  Manso Vieira Mansur

 

    ANTONIO JOAQUIM VIEIRA nasceu na Fazenda do Campo Redondo, há 30km. de Alfenas, no dia 07 de dezembro de 1830 e faleceu em 12 de agosto de 1908. Filho do Alferes Domingos Vieira e Silva, de origem lusitana, que veio para o Brasil colonizar vasta região no Sul de Minas Gerais. Domingos muito colaborou na construção da cidade de Alfenas. Foi militante do partido Conservador, e liberou grande energia na construção de pontes, estradas e marcou sua passagem na vida como exemplo de civismo e cidadão. Trazia em suas veias a fidalguia e educação esmerada. Inteligência brilhante. O seu primeiro ato foi da alforria aos seus escravos e protegidos  por ele. 

           O filho de Domingos, Antonio Joaquim (meu bisavô), revelou-se na política como pacifista e harmonizava as divergências locais. Colocava o bem comum acima das cogitações pessoais  (hoje, uma utopia). 

         Casou-se com a nobre Rita de Cássia Monteiro de Barros MANSO da Costa Reis, descendente do Barão de Paraopeba, da cidade vizinha São Gonçalo do Sapucaí. O casal foi  agraciado com treze filhos que nasceram na Fazenda Campo Redondo (O Solar dos Vieira) e receberam como sobrenome, MANSO VIEIRA. Muitos netos e bisnetos também nasceram na mesma fazenda e carregam o mesmo sobrenome. Costume da época para não se perder da tradição nobre de uma fidalga que se conservava por séculos. O que era respeitado. Quando Antonio Joaquim foi dividir suas propriedades com os 0filhos através de sorteio, a Fazenda Mãe Campo Redondo, a mais cobiçada por todos, coube ao oitavo filho, Domingos Manso Vieira (meu avô). Lá ele se casou com Maria José Siqueira  e criou seus doze filhos. Seu primogênito, Braziel Manso Vieira casou-se com  Francisca Pereira e o casal teve cinco filhos: (Ildeu, Ida, Iná, Ilma e Isnard) que também nasceram e viveram na  Fazenda Campo Redondo até  a idade escolar. A história dos Vieira é longa e atravessou séculos.

      Antônio Joaquim possuía alma mística e voltado para a fé, liderou na construção da Matriz São José e Dores, que apesar de ter sido descaracterizada, principalmente na parte interna, resiste até hoje, altaneira e simbólica na Praça Getúlio Vargas de Alfenas. Ele foi Delegado da cidade de Divisa Nova e recusou receber o salário que tinha por direito, caso inédito.  Liderou partidos políticos em Alfenas. Foi Membro atuante da Câmara, nunca faltou uma sessão sequer, deixando a marca de suas realizações e inspirações. Em baixo de chuva ou sol,  lá ia Antônio Joaquim enfrentando lamas, galopando em seu cavalo, para atender os chamados para as sessões políticas. Numa certa ocasião, durante três dias ele fez viagem pelas estradas agrestes para cumprir o chamado para as reuniões da Câmara, e elas não realizaram.   Por  que? Os Membros  convocados  não compareciam. Só Antônio Joaquim cumpria o seu dever. Recebeu de D. Pedro II, assim como o seu pai, a patente de Alferes e sentia-se muito bem com a farda suntuosa, chapéu com penacho e escudo, e uma espada gravada a ouro. O chapéu do Alferes e a espingarda de caça, em perfeitos estados de conservação se encontram com a sua neta Magdalena Manso Vieira, filha de Domingos, que hoje residente numa fazenda que pertenceu ao Barão de Vassouras-RJ, totalmente restaurada. Lidíssima. A espada pertence ao Museu de São Paulo.

       As grandes caçadas de Antônio Joaquim  eram realizadas na Fazenda Palmital, localizada em São Gonçalo do Sapucaí - MG.  Era de propriedade do Barão de Paraopeba, com mina de ouro, herança deixada aos seus descendentes. Nesta fazenda foram hospedados D. Pedro II e a Princesa Izabel.

      Antônio Joaquim recusou a nomeação de Coronel, pois dominado pela simplicidade, estava satisfeito com o título de Alferes, com seus adereços que cultuava com grande carinho. Fundou em 1850, junto com sua irmã Eufrásia, a primeira escola rural do município, construída de madeira de lei, que durou 50 anos. Essa escola educou seus filhos, sobrinhos, ex-escravos, vizinhos e outros. Não havia interesse financeiro. A escola era gratuita. Contratou professores do Rio de Janeiro, que se hospedavam no Solar dos Vieira.  Foi Antônio Joaquim autêntico educador. Os professores ensinavam deste a alfabetização, até matérias como Filosofia, Ciências e História. Da escola rural saíram respeitáveis mestres, considerados  a ‘meca do saber’.

      A Fazenda Campo Redondo (Solar dos Vieira) foi construída em 1808 e até os nossos dias continua nas mãos dos Vieira. Lá foi construído por Domingos Vieira e Silva um imenso engenho de cana, com peças trazidas da Alemanha, tais como: moenda, roda d’água, alambique, etc. Coxos imensos por onde corria a cachaça (pinga) ou bagaceira, nome usado em Portugal. No engenho produzia grande quantidade de derivados da cana, açúcar, rapadura, melado, cachaça (uma das melhores conhecidas). A fazenda era rica na plantação de cana. Antes do engenho, a fazenda  explorava o café. Possuia também, com grande atividade, a serraria e o movimento era  imenso e beneficiava toda a região.

    Antônio Joaquim foi um líder do progresso de Alfenas e da educação. Construiu pontes, estradas e idealizador da Matriz São José e Dores da Pedra Branca. O material para construção, como areia, pedras, madeiras e outros para erguer a Matriz vinham de doadores. Antonio Joaquim sempre à frentes da obra. Seus carros-de-bois traziam o material da sua fazenda, e as mãos-de-obras eram dos escravos e voluntários. Num certo momento, Antônio Joaquim foi atingido pela crise na lavoura e a obra foi interrompida. Mas, logo voltaram as atividades e até hoje, temos na principal praça da cidade, a majestosa Matriz como marca da cidade. Seu espírito altruísta fazia crescer o município. Seu senso de justiça imperava em seus atos.

      O Jornal Alfenense publicou em 1928, um fato inusitado de Antônio Joaquim. Convocados pelo primeiro Juiz, Dr.Cavalcanti, cidadãos para discutir sobre mudanças na Constituinte, o corpo de jurados composto de dez Membros da Câmara. Antônio atravessava os rios do Muzambo e São Tomé, à cavalo, sobre chuva torrencial e lamas, e chegava à cidade no horário determinado. Não houve sessão, por falta de comparecimento dos outros jurados, que residiam na própria cidade. Assim a sessão foi adiada por mais duas vezes. Antônio Joaquim firme, e pontualidade ‘britânica’. Na terceira convocação, a sessão novamente suspensa, Antônio Joaquim presente na Câmara, levantou-se com fidalguia, e bradou energicamente: “...é um abuso dos que não estão presentes, Dr.Cavalcanti”. Com o dedo indicador  no alto,  continuou:... “nossas  Leis não precisam de reformas. É preciso reformar  os costumes dos homens. Mande buscar os jurados em suas casas. Que venham obrigados”. O Juiz irado com a sua audácia,  pronunciou:  “Considere preso o Alferes Antônio Joaquim Vieira. Em seguida, o Delegado pediu a lista dos jurados faltosos, reabriu a sessão. Antônio Joaquim foi o único a reformar o artigo, com as palavras: “Todo brasileiro é obrigado a ter vergonha na cara”.

      Em Alfenas, Antônio Joaquim Vieira tem ainda quatro netos e muitos bisnetos, continuidade do nome MANSO VIEIRA. Seus descendentes carregam a sua carga genética, como marca de seu caráter.

                                                                         Alfenas, 20002.  

     

ANTONIO JOAQUIM VIEIRA

REVIVENDO  ANTONIO JOAQUIM VIEIRA

Ilma  Manso Vieira Mansur

 

    ANTONIO JOAQUIM VIEIRA nasceu na Fazenda do Campo Redondo, há 30km. de Alfenas, no dia 07 de dezembro de 1830 e faleceu em 12 de agosto de 1908. Filho do Alferes Domingos Vieira e Silva, de origem lusitana, que veio para o Brasil colonizar vasta região no Sul de Minas Gerais. Domingos muito colaborou na construção da cidade de Alfenas. Foi militante do partido Conservador, e liberou grande energia na construção de pontes, estradas e marcou sua passagem na vida como exemplo de civismo e cidadão. Trazia em suas veias a fidalguia e educação esmerada. Inteligência brilhante. O seu primeiro ato foi da alforria aos seus escravos e protegidos  por ele. 

           O filho de Domingos, Antonio Joaquim (meu bisavô), revelou-se na política como pacifista e harmonizava as divergências locais. Colocava o bem comum acima das cogitações pessoais  (hoje, uma utopia). 

         Casou-se com a nobre Rita de Cássia Monteiro de Barros MANSO da Costa Reis, descendente do Barão de Paraopeba, da cidade vizinha São Gonçalo do Sapucaí. O casal foi  agraciado com treze filhos que nasceram na Fazenda Campo Redondo (O Solar dos Vieira) e receberam como sobrenome, MANSO VIEIRA. Muitos netos e bisnetos também nasceram na mesma fazenda e carregam o mesmo sobrenome. Costume da época para não se perder da tradição nobre de uma fidalga que se conservava por séculos. O que era respeitado. Quando Antonio Joaquim foi dividir suas propriedades com os 0filhos através de sorteio, a Fazenda Mãe Campo Redondo, a mais cobiçada por todos, coube ao oitavo filho, Domingos Manso Vieira (meu avô). Lá ele se casou com Maria José Siqueira  e criou seus doze filhos. Seu primogênito, Braziel Manso Vieira casou-se com  Francisca Pereira e o casal teve cinco filhos: (Ildeu, Ida, Iná, Ilma e Isnard) que também nasceram e viveram na  Fazenda Campo Redondo até  a idade escolar. A história dos Vieira é longa e atravessou séculos.

      Antônio Joaquim possuía alma mística e voltado para a fé, liderou na construção da Matriz São José e Dores, que apesar de ter sido descaracterizada, principalmente na parte interna, resiste até hoje, altaneira e simbólica na Praça Getúlio Vargas de Alfenas. Ele foi Delegado da cidade de Divisa Nova e recusou receber o salário que tinha por direito, caso inédito.  Liderou partidos políticos em Alfenas. Foi Membro atuante da Câmara, nunca faltou uma sessão sequer, deixando a marca de suas realizações e inspirações. Em baixo de chuva ou sol,  lá ia Antônio Joaquim enfrentando lamas, galopando em seu cavalo, para atender os chamados para as sessões políticas. Numa certa ocasião, durante três dias ele fez viagem pelas estradas agrestes para cumprir o chamado para as reuniões da Câmara, e elas não realizaram.   Por  que? Os Membros  convocados  não compareciam. Só Antônio Joaquim cumpria o seu dever. Recebeu de D. Pedro II, assim como o seu pai, a patente de Alferes e sentia-se muito bem com a farda suntuosa, chapéu com penacho e escudo, e uma espada gravada a ouro. O chapéu do Alferes e a espingarda de caça, em perfeitos estados de conservação se encontram com a sua neta Magdalena Manso Vieira, filha de Domingos, que hoje residente numa fazenda que pertenceu ao Barão de Vassouras-RJ, totalmente restaurada. Lidíssima. A espada pertence ao Museu de São Paulo.

       As grandes caçadas de Antônio Joaquim  eram realizadas na Fazenda Palmital, localizada em São Gonçalo do Sapucaí - MG.  Era de propriedade do Barão de Paraopeba, com mina de ouro, herança deixada aos seus descendentes. Nesta fazenda foram hospedados D. Pedro II e a Princesa Izabel.

      Antônio Joaquim recusou a nomeação de Coronel, pois dominado pela simplicidade, estava satisfeito com o título de Alferes, com seus adereços que cultuava com grande carinho. Fundou em 1850, junto com sua irmã Eufrásia, a primeira escola rural do município, construída de madeira de lei, que durou 50 anos. Essa escola educou seus filhos, sobrinhos, ex-escravos, vizinhos e outros. Não havia interesse financeiro. A escola era gratuita. Contratou professores do Rio de Janeiro, que se hospedavam no Solar dos Vieira.  Foi Antônio Joaquim autêntico educador. Os professores ensinavam deste a alfabetização, até matérias como Filosofia, Ciências e História. Da escola rural saíram respeitáveis mestres, considerados  a ‘meca do saber’.

      A Fazenda Campo Redondo (Solar dos Vieira) foi construída em 1808 e até os nossos dias continua nas mãos dos Vieira. Lá foi construído por Domingos Vieira e Silva um imenso engenho de cana, com peças trazidas da Alemanha, tais como: moenda, roda d’água, alambique, etc. Coxos imensos por onde corria a cachaça (pinga) ou bagaceira, nome usado em Portugal. No engenho produzia grande quantidade de derivados da cana, açúcar, rapadura, melado, cachaça (uma das melhores conhecidas). A fazenda era rica na plantação de cana. Antes do engenho, a fazenda  explorava o café. Possuia também, com grande atividade, a serraria e o movimento era  imenso e beneficiava toda a região.

    Antônio Joaquim foi um líder do progresso de Alfenas e da educação. Construiu pontes, estradas e idealizador da Matriz São José e Dores da Pedra Branca. O material para construção, como areia, pedras, madeiras e outros para erguer a Matriz vinham de doadores. Antonio Joaquim sempre à frentes da obra. Seus carros-de-bois traziam o material da sua fazenda, e as mãos-de-obras eram dos escravos e voluntários. Num certo momento, Antônio Joaquim foi atingido pela crise na lavoura e a obra foi interrompida. Mas, logo voltaram as atividades e até hoje, temos na principal praça da cidade, a majestosa Matriz como marca da cidade. Seu espírito altruísta fazia crescer o município. Seu senso de justiça imperava em seus atos.

      O Jornal Alfenense publicou em 1928, um fato inusitado de Antônio Joaquim. Convocados pelo primeiro Juiz, Dr.Cavalcanti, cidadãos para discutir sobre mudanças na Constituinte, o corpo de jurados composto de dez Membros da Câmara. Antônio atravessava os rios do Muzambo e São Tomé, à cavalo, sobre chuva torrencial e lamas, e chegava à cidade no horário determinado. Não houve sessão, por falta de comparecimento dos outros jurados, que residiam na própria cidade. Assim a sessão foi adiada por mais duas vezes. Antônio Joaquim firme, e pontualidade ‘britânica’. Na terceira convocação, a sessão novamente suspensa, Antônio Joaquim presente na Câmara, levantou-se com fidalguia, e bradou energicamente: “...é um abuso dos que não estão presentes, Dr.Cavalcanti”. Com o dedo indicador  no alto,  continuou:... “nossas  Leis não precisam de reformas. É preciso reformar  os costumes dos homens. Mande buscar os jurados em suas casas. Que venham obrigados”. O Juiz irado com a sua audácia,  pronunciou:  “Considere preso o Alferes Antônio Joaquim Vieira. Em seguida, o Delegado pediu a lista dos jurados faltosos, reabriu a sessão. Antônio Joaquim foi o único a reformar o artigo, com as palavras: “Todo brasileiro é obrigado a ter vergonha na cara”.

      Em Alfenas, Antônio Joaquim Vieira tem ainda quatro netos e muitos bisnetos, continuidade do nome MANSO VIEIRA. Seus descendentes carregam a sua carga genética, como marca de seu caráter.

                                                                         Alfenas, 20002.  

     

domingo, 10 de abril de 2011

CARTA SEM ENDEREÇO

CARTA  SEM  ENDEREÇO

Ilma MansoVieira

 

      Sábado de Aleluia. A lua cheia brilha  no céu límpido, anunciando a beleza do universo.  E cá embaixo,  da terra dos homens, parte  para a Luz Maior uma estrela, que do infinito manda o seu doce sorriso aos amigos órfãos, com a mensagem: “...eu continuo entre vocês zelando e amando os irmãos que ficaram sem a minha presença”.

           Prof. Edson Velano, a minha mensagem está sendo encaminhada para você sem endereço, ou  melhor, endereçada ao infinito, onde com certeza, a Mão de Deus lhe acaricia   e mostra o deslumbramento do Mundo sem matéria, do mundo que transcende a nossa limitada inteligência, que será a sua residência eterna.  E aí você  nos espera.

       Agora, é tarde para que você ouça tanta coisa que  nestes oito anos do meu retorno à Alfenas, me perdia nas vagações dos meus pensamentos e lhe dizia: que sorte  tê-lo tido como amigo. Você realizou muitas das  minhas alegrias. Quero primeiro lembrar o patrocínio do meu pequeno livro “Filosofia para Crianças” que foram doados às escolas, quando a Profa. Maria da Conceição Barbosa, Secretária Municipal da Educação, que com muita competência promoveu um evento para o lançamento e entrega dos livros às respectivas representantes das escolas. Assim você começou a mostrar que eu existia. Com o maior carinho, a meu pedido, cedeu o Clube XV para o lançamento do livro “Lampejo” de minha irmã Ida. Você lá presente nos prestigiando. Quanto ao livro Mandassaia (Furnas), do meu irmão Ildeu, que estava engavetado havia  vinte anos, foi você que atendeu o meu pedido, e ainda agradeceu pela oportunidade. Prefaciou o livro, patrocinou a tiragem e ofereceu um lançamento de tal grandeza que  não há palavras para agradecer.  Suas palavras solenes durante o belíssimo evento fizeram  correr lágrimas pelas nossas faces, e as palavras de encantamento que saiam de sua inspiração iluminada abalaram as emoções. Quero repetir as suas palavras no momento em que a chuva forte caia sobre o telhado do Hangar, e estrondos dos trovões ensurdeciam o ambiente, você com a voz ainda mais potente, bradou: “... nem a chuva que cai não impedirá que minhas palavras sejam ouvidas  quando falo do Ildeu, que já partiu para o outro lado...” Hoje, Ildeu  deve estar abraçando e agradecendo você,  envolto no véu da Luz do infinito. No seu livro “Sombras da Vila Formosa”  você nos homenageou, eu e meus irmãos. Como nos sentimos honrados.  Ainda falta falar  sobre a minha participação no DVD em homenagem ao querido Waldir de Luna Carneiro. Foi um gesto de carinho muito especial, e lhe perguntei: por que eu?  E as festas!  Indescritíveis, oferecidas às pessoas que o amam. Compartilhar das suas alegrias com os amigos fazia parte do seu talento. E sempre com a bela família ao seu lado.  

                      O nosso agradecimento. Assim vou dedilhando um rosário interminável de alegrias.    

        Somos um grãozinho de areia acolhidos no universo de sua alma.

   Recebi “pérolas e transformei-as em gratidão, amizade, respeito” e carinho.   Palavras suas.

       Os anjos tocam cornetas nos céus para recebê-lo, e nós, choramos a sua partida.  Até um dia, amigo.

        Estamos de luto.  Luto é a tristeza, a falta, a saudade. É sentir a ausência  da pessoa querida, sem volta, que nos envolve momentos de profunda saudade,  que dói. É a saudade sem esperança, que se funda à vontade de compartilhar, de acariciar, de falar sobre os nossos sentimentos e ouvir o que o outro tem a nos dizer. É o grito silencioso que sai da alma, o olhar vai para o alto à procura de um eco que nada mais é senão a volta da própria saudade. Você foi,  mas se eterniza em nossos corações.

                                              ******   

sábado, 2 de abril de 2011

FILOSOFANDO NA PRAÇA - IV

FILOSOFANDO NA PRAÇA – IV

 

       Com o dia nublado naquele domingo, nem todos os amigos voltaram à praça. Mas, de passagem, um escultor que trabalhava ao lado, isto é, exibia as suas obras de barro espalhadas no chão, participou com entusiasmo da nossa conversa.

     Ele não era um escultor qualquer. Trazia nas veias a paixão pelo trabalho artístico que com certeza, era herança genética de seu avô, um italiano, escultor de grande talento que deixou a sua marca nas obras por onde passava. O novo componente do grupo, era também psicoterapeuta, administrador de empresas, com grande bagagem profissional, que ao aposentar-se, abraçou  o trabalho artesanal de esculturas, manipulando o barro e criando peças estéticas específicas de jardins, como mais uma de suas realizações no caminho já bastante diversificado.

       O professor de Filosofia estava ansioso para continuar o tema sobre a Ordem dos Cavaleiros Templários, desenvolvido na Idade Média.

       Empolgado, começou a discorrer sobre o tema: “Em 1306, Jacques de Molay, Grande Mestre dos Templários, formou um nova Cruzada que resultou no seu fim e de seus companheiros. Foram acusados e levados a um cadafalso, entre a multidão, em Paris, onde deveriam confessar as suas culpas de heresia (palavra que em grego significa “escolha”, ante os legados papais e o povo. Mas, retrataram-se de suas confissões e defenderam os Templários diante da multidão que assistia ao processo de julgamento. Para decepção dos acusadores, Jacques de Molay e seus companheiros proclamaram inocência dos Cavaleiros da Ordem dos Templários.

       O escultor completou: “Diz a história, que talvez, a maior realização dos Templários tenha sido o estímulo à virtude entre bravos e fortes.  Muitos Cavaleiros haviam adquirido rico conhecimento nos países  orientais durante as Cruzadas. Eles descobriram que havia no Oriente uma civilização superior à que existia na sociedade do Ocidente cristão”.

    O escritor interferiu dizendo: “Muitos Templários foram secretamente iniciados nas escolas de mistérios do Oriente, onde foi revelada a sabedoria do passado”.

      Entrou na conversa uma jovem responsável pela banca de jornais que fica ao lado do grupo, sempre atenta aos debates e perguntou: “Pelo que estou entendendo, os Templários eram cristãos. Mesmo assim, foram repudiados pela Igreja Romana?”  O professor de Filosofia satisfeito com a interferência, argumentou que: “Embora constituísse uma Ordem cristã, os Templários eram independentes da Igreja. Eles podiam estudar e desenvolver um conhecimento amplo e com isso, ganharam mentalidade liberal. Eram adeptos da Ordem dos Cavaleiros dos Templários aqueles que procuraram uma espécie de refúgio através dos estudos, investigação intelectual e rituais místicos fora da Igreja Romana. Por isso a Igreja deu crédito ao boato de que os Templários eram hereges”. O escultor sorrindo: “...eles ultrapassaram os limites das fronteiras de investigação da Igreja”.

     A jovem da banca de jornais trouxe a revisa Época, de 21/06/04, aberta na pagina 98, com o título: “Mea mínima culpa” – A informação é de que  o Vaticano divulgou relatório no qual tenta provar que a Inquisição matou menos do que se acredita – e em voz alta leu para o grupo a reportagem. O escritor lembrou que a humanidade, desde os primórdios da existência nunca deixou de praticar atrocidades. Citou as grandes crises de guerras  no passado, bem como as torturas tão dentro de nossos dias. Guerras e mais guerras em nome do “bom governo” que mata, mutila, para livrar do ‘mau governo’, e assim ‘caminhada humanidade’ até a um futuro desconhecido.

     Ainda dentro de nossa geração, pudemos acompanhar as torturas sofridas pelos chamados ‘subversivos’ nas celas dos horrores, nos presídios do Brasil.

        O céu escureceu e a chuva prometia cair sobre a praça. O grupo  se despediu e prometeu voltar e trazer os outros ausentes: o político, o prof. de Educação Física, a arquiteta e a menina da Efoati. Afinal, o político deve estar muito ocupado com a sua nova candidatura. O professor de educação Física aproveitou as férias para correr na praia de Copacabana. A arquiteta foi para Curitiba estagiar com o seu colega de profissão, o Sr. Jaime Lener e trazer idéias para embelezar e elevar o nível da nossa cidade, e a menina da Efoati está participando de um Encontro da Feliz Idade.

                                               X

FILOSOFANDO NA PRAÇA III

FILOSOFANDO NA PRAÇA – III

 

 

     Todos voltaram no próximo encontro.

     O professor de Filosofia foi logo afirmando. “É habitual dizer que Filosofia tem a inocência de uma criança. Sabem por quê? A criança não tem barreira mental e conserva a riqueza emocional”. O escritor pediu que o grupo se integrasse no pensamento filosófico. “Afinal, filosofar é questionar todos os problemas que nos defrontamos diante do mundo”.  A menina da Efoati afirmou que: “Observo pessoas que gostam de filosofar e às vezes se tornam inoportunas e passam a ser discriminadas, parece que vivem no mundo da lua”. O professor de Educação Física argumentou: “A rejeição da obrigatoriedade do ensino da Filosofia nas escolas teve como desculpa, ser uma disciplina que iria onerar mais o Estado e não tão necessária quanto às outras matérias”. O escritor, um veterano no caminho do conhecimento humano, esclareceu que: “A Filosofia é a mais nobre área do saber”. O filósofo é indesejável quando questiona o modo de ser das coisas, da política da ética da estética, da tecnologia etc. É quando ela é vista como perigosa e subversiva. O professor de Filosofia acrescentou: “Lembramos a terrível condenação de Sócrates, séc. V a.C por conduzir jovens à reflexão, o que provocaria risco de mudar a cultura da época. Proibidas foram as leituras sobre o socialismo de Karl Marx, no Brasil, pós/64. Subversivos foram considerados os seus adeptos, os seus simpatizantes que sofreram torturas nas prisões só porque pensaram diferente dos interesses políticos do país. Quantas  vidas interropidas, mutiladas, traumatizadas só porque ousaram pensar, e idealizar um país diferente, mais justo e harmonioso e lutaram por uma utopia: a igualdade social”. A arquiteta, muito atenta, complementou: “Sócrates só fazia uso da oratória incentivando que cada um descobrisse a luz  do seu próprio pensamento, foi condenado à morte. Que mal pode fazer aquele que apenas usava da oratória para ensinar?”. O professor de Educação Física, jovem emocionado falou: “Somos seres em evolução e lutamos para alcançar o sentido maior de vida. Estou consciente de que a vida só tem valor quando acreditamos que vale a pena lutar e buscar mais luz para a humanidade”. O professor de Filosofia entusiasmado com o interesse do grupo lembrou fatos históricos como da inquisição, o domínio do cristianismo, da Ordem Secreta dos Templários que tiveram seus templos queimados e os seus adeptos decapitados, acusados de renderam culto à Satanás e outras idolatrias. Só mais tarde foi reconhecido que as acusações eram infundadas, um grande equívoco.

        Dando por encerrado o encontro, ficou marcado o próximo  encontro.    

                                                                                             X

 

 

 

 

FILOSOFANDO NA PRAÇA - II

FILOSOFANDO NA PRAÇA  - II

 

         Após 15 dias, voltamos a filosofar na praça.

         Observamos melhor o novo visual da praça que foi reabilitada,

e parece que estamos voltando à nossa Praça de outrora, do tempo colegial.

         Outras pessoas apareceram. O primeiro a chegar foi um literato-escritor, que diariamente passeia pelas praças, acompanhado de seu amigo fiel, um belo cão, da raça cocker spaniel, que atende pelo nome Dick (deusa da justiça). Em seguida, o professor de Educação Física juntou-se a nós, trazendo a sua jovialidade e entusiasmo pela vida. Chegou também a amiga dos tempos do colégio, atualmente apelidada a “Menina da Efoati”, que depois de tantos anos ausente, voltou com as suas observações, vê o mundo na sua ótica fantasiosa e indignada. E para surpresa maior, tivemos a participação de um jovem político sonhador que passou a vida acreditando na realidade de suas fantasias, na certeza de que ‘possibilidade’ já é fato consumado. O professor de Filosofia, na liderança do encontro, propõe uma viagem pelo conhecimento após o séc. IX, passando pela Idade Média, Escolástica, Renascimento e preparação para o mundo Moderno, que despontou no final do séc. XV. Sem história do passado, torna-se difícil compreender o tempo presente.

      Alguns dos que compareceram no primeiro encontro, só voltarão dentro de um mês. Depois, uniremos os dois grupos. 

       O político tomou a palavra fazendo proposta para levantar uma ‘tempestade de idéias’. Deixar que cada um descarregue os seus temas, as suas emoções. Assim todos concordaram. A proposta do Professor de Filosofia ficou adiada.

      Chegou a jovem Arquiteta, sempre preocupada com a ‘Programação Visual’ da cidade. Afinal, conforto visual também é necessário e faz muito bem. A Menina da Efoati, aquela que só se ocupa de exercícios físicos: academia, ginástica, yoga, caminhada, e não tem tempo para pensar. O corpo agradece, mas a cabeça reclama. Disse ela: “Uma vez por semana nos encontramos com o professor de Educação Física numa sala de aula. As freqüentadoras da terceira idade, conscientes dos longos anos já caminhados pela vida com a metamorfose do corpo, gordas ou magras, com a pele que não tem mais o vigor e o brilho da juventude já tão distante..., a pele dos braços rugosa, as mãos manchadas com pintas como se fosse ferrugem pelo envelhecimento. As pernas, antes esbeltas e douradas pelo sol, agora mais curtas, volumosas, esbranquiçadas e com veias exaltadas e escurecidas. Estas ‘meninas’ chegam à sala e são tomadas de uma energia contagiante. Comunicativas, alegres aguardam a entrada do professor. O professor entra. Os olhos de cada uma antes distantes pela queda das pálpebras, atacadas pelo blefaroespasmo, e fisionomias envelhecidas, mudam de aparência. O belo professor, um verdadeiro deus grego – um Apolo - o deus da beleza. Os olhares se fixam na bela estátua viva, as faces ganham expressões de felicidade e os olhos crescem como se tivessem sobre efeito de Botox, e brilham como faróis para iluminar o ‘deus da beleza’. As ‘meninas’ ficam paralisadas diante do Belo que Veio! Um colírio para os nossos olhos...”.

     “Muito bem”, disse o escritor: “Eu acho tão difícil aderir-me ao exercício físico, prefiro as caminhadas matinais, no silêncio. Observar o que se passa ao seu redor. Como se comportam as pessoas que transitam nas ruas. Como está sendo cuidada a nossa cidade... Acredito que o crescimento da cultura de um povo se mostra pelo zelo, pela limpeza da cidade, pois temos a praça como “cartão de visita”. É respirando o ar puro que recebo inspiração para compor as minhas obras. Pergunta o professor de Educação Física: “Você como escritor, deve ser um apaixonado. Aquele que vê a mulher amada como uma deusa a ser coberta de carinho, de afago, presenteada com rosas quando as palavras são pequenas para expressar a sua paixão. Tenho medo da paixão, porque ela nos tira a razão”. O escritor comenta: “É meu amigo, a paixão é que me faz colher as alegrias da vida. Vivo movido pelas emoções frenéticas da paixão... é um delírio, uma viagem...”.

      O professor de Filosofia encontrou um ‘gancho’ para falar sobre a flor – a rosa: “A rosa pode ser vista como símbolo de equilíbrio entre o dar e o receber”. A rosa possui um núcleo de onde emanam as pétalas. Do ponto central sai uma irradiação e a energia que vem de fora passa pelas diversas pétalas que são reunidas no centro da rosa. Elas representam o nosso receber, trata-se de um movimento de fora para dentro, um processo de interiorização. Em seguida, a energia que parte do interior, do centro da rosa, difunde-se através das pétalas, irradiando-se para fora. Elas representam o nosso dar através do movimento de dentro para fora, um processo de exteriorização. A rosa representa simultaneamente a concentração no mundo interior e a abertura ao mundo exterior. Precisamos das duas coisas para viver harmoniosamente: do receber e do dar”.

      A arquiteta volta a falar da praça. “Estamos de volta à praça e sou uma das responsáveis pela sua recuperação artística de todas as praças de Alfenas. Os projetos estão lindos e acreditamos na recuperação e embelezamento de todas elas. Alfenas e o seu povo merecem a alegria de viver numa cidade que respeita a natureza e possa sentir orgulho de seus governantes. Alfenas caminha  para o segundo século de existência, tem muito a melhorar e é inaceitável que a cidade e seu povo sejam desrespeitados e humilhados pelo abandono. Vamos cobrir as praças de rosas.

           O político sonhador ansioso para desabafar: “Se eu fosse o governo desta cidade contrataria os desempregados para consertar e lavar as calçadas e ruas e escová-las até ressurgir o brilho que Alfenas merece. E exigiria um tratamento com ‘pedrinhas de brilhantes’, irradiando luminosidade por todos os cantos. Cada transeunte teria que jogar o seu ‘lixinho’ nas cestas próprias. Em cada esquina, um vigia para educar e multar cada infrator. Educação é lei...limpeza é lei...Seria proibido sujar a cidade. Campanhas de civilização pelas ruas. Cachorrinhos protegidos para não sujar as calçadas. Cachorros e donos recolhidos. Pedintes teriam o seu espaço. A alegria de viver em Alfenas seria uma realidade. Tanta coisa para realizar”.  

     O escritor pediu a palavra: “È amigo! Enquanto você no mundo da fantasia limpa a cidade, organiza, administra, etc... eu gostaria também, que fosse instalada uma mega-livraria modelo. O povo não tem dinheiro para comprar livros, mas teria um belo espaço com poltronas, café, temperatura e música ambiente  para passar horas folheando ou lendo livros e revistas. O  povo de Alfenas merece. Colocaria funcionários preparados para indicar leituras àqueles que não estão habituados a ler. O ambiente seria um grande ponto de atração. Como é bom viver no mundo dos sonhos, mas muita frustração em não poder realizá-los  Os sonhos são alimentos mentais”.  O professor de Educação Física  que tem os pés no chão pediu um tempo para falar: “Sonhar é uma realidade e é dentro dos sonhos  que cumprimos os nossos ideais. Eu ensino e exijo que as ‘meninas’ da terceira idade, não se descuidem do físico e da alimentação para manter o equilíbrio do corpo e da mente. A força da terceira idade é incrível. Procuro conscientizá-las de que elas podem fazer o que querem. É preciso  saber usar a sua força”.  A ‘menina da Efoati’ interrompeu, e com ênfase e entusiasmos acrescentou: “Você professor, é o nosso mentor”.  O professor de Filosofia ainda não teve espaço para dialogar sobre Filosofia. Mas, o importante, é que todos se sentiram à vontade para falar.

     O tempo foi encerrado.  Até o próximo encontro.

                                                       X