REVIVENDO ANTONIO JOAQUIM VIEIRA
Ilma Manso Vieira Mansur
ANTONIO JOAQUIM VIEIRA nasceu na Fazenda do Campo Redondo, há 30km. de Alfenas, no dia 07 de dezembro de 1830 e faleceu em 12 de agosto de 1908. Filho do Alferes Domingos Vieira e Silva, de origem lusitana, que veio para o Brasil colonizar vasta região no Sul de Minas Gerais. Domingos muito colaborou na construção da cidade de Alfenas. Foi militante do partido Conservador, e liberou grande energia na construção de pontes, estradas e marcou sua passagem na vida como exemplo de civismo e cidadão. Trazia em suas veias a fidalguia e educação esmerada. Inteligência brilhante. O seu primeiro ato foi da alforria aos seus escravos e protegidos por ele.
O filho de Domingos, Antonio Joaquim (meu bisavô), revelou-se na política como pacifista e harmonizava as divergências locais. Colocava o bem comum acima das cogitações pessoais (hoje, uma utopia).
Casou-se com a nobre Rita de Cássia Monteiro de Barros MANSO da Costa Reis, descendente do Barão de Paraopeba, da cidade vizinha São Gonçalo do Sapucaí. O casal foi agraciado com treze filhos que nasceram na Fazenda Campo Redondo (O Solar dos Vieira) e receberam como sobrenome, MANSO VIEIRA. Muitos netos e bisnetos também nasceram na mesma fazenda e carregam o mesmo sobrenome. Costume da época para não se perder da tradição nobre de uma fidalga que se conservava por séculos. O que era respeitado. Quando Antonio Joaquim foi dividir suas propriedades com os 0filhos através de sorteio, a Fazenda Mãe Campo Redondo, a mais cobiçada por todos, coube ao oitavo filho, Domingos Manso Vieira (meu avô). Lá ele se casou com Maria José Siqueira e criou seus doze filhos. Seu primogênito, Braziel Manso Vieira casou-se com Francisca Pereira e o casal teve cinco filhos: (Ildeu, Ida, Iná, Ilma e Isnard) que também nasceram e viveram na Fazenda Campo Redondo até a idade escolar. A história dos Vieira é longa e atravessou séculos.
Antônio Joaquim possuía alma mística e voltado para a fé, liderou na construção da Matriz São José e Dores, que apesar de ter sido descaracterizada, principalmente na parte interna, resiste até hoje, altaneira e simbólica na Praça Getúlio Vargas de Alfenas. Ele foi Delegado da cidade de Divisa Nova e recusou receber o salário que tinha por direito, caso inédito. Liderou partidos políticos
As grandes caçadas de Antônio Joaquim eram realizadas na Fazenda Palmital, localizada
Antônio Joaquim recusou a nomeação de Coronel, pois dominado pela simplicidade, estava satisfeito com o título de Alferes, com seus adereços que cultuava com grande carinho. Fundou em 1850, junto com sua irmã Eufrásia, a primeira escola rural do município, construída de madeira de lei, que durou 50 anos. Essa escola educou seus filhos, sobrinhos, ex-escravos, vizinhos e outros. Não havia interesse financeiro. A escola era gratuita. Contratou professores do Rio de Janeiro, que se hospedavam no Solar dos Vieira. Foi Antônio Joaquim autêntico educador. Os professores ensinavam deste a alfabetização, até matérias como Filosofia, Ciências e História. Da escola rural saíram respeitáveis mestres, considerados a ‘meca do saber’.
A Fazenda Campo Redondo (Solar dos Vieira) foi construída em 1808 e até os nossos dias continua nas mãos dos Vieira. Lá foi construído por Domingos Vieira e Silva um imenso engenho de cana, com peças trazidas da Alemanha, tais como: moenda, roda d’água, alambique, etc. Coxos imensos por onde corria a cachaça (pinga) ou bagaceira, nome usado
Antônio Joaquim foi um líder do progresso de Alfenas e da educação. Construiu pontes, estradas e idealizador da Matriz São José e Dores da Pedra Branca. O material para construção, como areia, pedras, madeiras e outros para erguer a Matriz vinham de doadores. Antonio Joaquim sempre à frentes da obra. Seus carros-de-bois traziam o material da sua fazenda, e as mãos-de-obras eram dos escravos e voluntários. Num certo momento, Antônio Joaquim foi atingido pela crise na lavoura e a obra foi interrompida. Mas, logo voltaram as atividades e até hoje, temos na principal praça da cidade, a majestosa Matriz como marca da cidade. Seu espírito altruísta fazia crescer o município. Seu senso de justiça imperava em seus atos.
O Jornal Alfenense publicou em 1928, um fato inusitado de Antônio Joaquim. Convocados pelo primeiro Juiz, Dr.Cavalcanti, cidadãos para discutir sobre mudanças na Constituinte, o corpo de jurados composto de dez Membros da Câmara. Antônio atravessava os rios do Muzambo e São Tomé, à cavalo, sobre chuva torrencial e lamas, e chegava à cidade no horário determinado. Não houve sessão, por falta de comparecimento dos outros jurados, que residiam na própria cidade. Assim a sessão foi adiada por mais duas vezes. Antônio Joaquim firme, e pontualidade ‘britânica’. Na terceira convocação, a sessão novamente suspensa, Antônio Joaquim presente na Câmara, levantou-se com fidalguia, e bradou energicamente: “...é um abuso dos que não estão presentes, Dr.Cavalcanti”. Com o dedo indicador no alto, continuou:... “nossas Leis não precisam de reformas. É preciso reformar os costumes dos homens. Mande buscar os jurados em suas casas. Que venham obrigados”. O Juiz irado com a sua audácia, pronunciou: “Considere preso o Alferes Antônio Joaquim Vieira. Em seguida, o Delegado pediu a lista dos jurados faltosos, reabriu a sessão. Antônio Joaquim foi o único a reformar o artigo, com as palavras: “Todo brasileiro é obrigado a ter vergonha na cara”.
Em Alfenas, Antônio Joaquim Vieira tem ainda quatro netos e muitos bisnetos, continuidade do nome MANSO VIEIRA. Seus descendentes carregam a sua carga genética, como marca de seu caráter.
Alfenas, 20002.